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A polissemia do “Presente” no Natal

Deepak Chopra, guru das estrelas de Hollywood e endocrinologista indiano, nos traz reflexões sobre a sabedoria védica relacionada ao sentido temporal do “presente”. Segundo ele, este é o momento mais importante, pois o futuro é incerto e o passado já se foi. Chopra recomenda viver no presente, pois é o único momento que realmente temos. “A vida se realiza no aqui e agora.”

Para nós, psicanalistas, o inconsciente é atemporal, sendo “o infantil”, como Freud dizia. Não separamos na escuta presente do passado, considerando um processo de estruturação. A narrativa do analisando revelará como lidou com a castração, resolução edípica e identificações.

No aqui e agora, na busca pela realização do desejo, há maior proximidade com a estrutura histérica, com o insatisfeito. O futuro, do ponto de vista de um desejo impossível e distante, coaduna-se mais com a obsessão.

Na nossa cultura ocidental, o Natal presentifica tudo: afetos, sonhos, expectativas. O filme “Natal de Costume”, na Netflix, embora siga a tradição de comédia romântica natalina, permite reflexões sobre choques culturais entre o noivo indiano e a noiva norueguesa, com uma família que não abre mão de cada detalhe de suas comemorações e hábitos.

Nos encontros familiares, o maior desafio é fazer com que todos se sintam acolhidos, com flexibilidade e viés cristão. Isso envolve evitar “saias justas” nos confrontos de ideologias e avaliações, conhecendo de antemão as posições de todos.

Minha saudosa mãe do coração, Nilza Fontella, patrocinou meus 9 anos de análise, um patrimônio para toda a vida e condição indispensável para que alguém se autorize a ser um psicanalista. Isso faz parte de um tripé que inclui estudo e supervisão.

Ao aceitar, nomeei essa ajuda como um “presente”. Minha analista pontuou este significante, e eu percebi que tinha um sentido muito além: a presença dela na minha vida, seu suporte para minha evolução pessoal e profissional.

“Amar é dar o que não se tem”, disse Lacan. Entendo que, não sendo completos, atendemos à demanda imaginária do outro, o que estrutura os afetos em geral. O melhor e mais poderoso presente é o amor, que traz vida, acolhimento e esperanças.

Nós, brasileiros, fomos presenteados com avanços inegáveis em todas as áreas. Agora, no final, de maneira significativa, com a Reforma Tributária conquistada pela democracia unida.

Para nós, militantes do movimento LGBTQIAPN+, um presente literalmente abençoado foi o acolhimento da união homoafetiva (atacada pelo conservadorismo) pelo Vaticano, com o Papa Francisco como porta-voz.

Feliz Natal, com uma ceia farta de afetos e ações que ajudem aqueles que estão carentes em todos os sentidos.

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Gaio Fontella
Gaio Fontellahttps://realnews.com.br/category/opiniao/blog-do-gaio/
Gaio Fontella (Psicólogo, psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS, comentarista e produtor do “Café com Análise”, no Youtube.
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