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Segurança (in-out)

Do lugar mais seguro, o útero, no qual nada nos faltava, temos nossa primeira demanda de segurança, que passa por uma inicial busca de independência, respirando fora neste mundo desconhecido e buscando alimento no seio materno.

A Melanie Klein, grande teórica do desenvolvimento humano com o olhar psicanalítico, nos traz o conceito de “Seio Bom”, relacionado à presença e disponibilidade da mãe, e o “Seio Mau” (suas ausências que trazem inseguranças a serem enfrentadas).

Freud já trazia o conceito de “fort- da”, pela observação da vocalização de um netinho, exercitando a presença e ausência materna, brincando com o ioiô. A resolutividade edípica, com a castração, termos que dividir a mãe com o pai, depois com irmãos e a vida, fazem parte do processo.

No desenvolvimento cognitivo Piagetiano, a construção do objeto permanente passa pela segurança afetiva, que influencia no aprendizado e depende de um ambiente seguro, inclusive economicamente, com espaço lúdico.

Brincadeiras com armas não necessariamente implicam em educar filhos violentos, mas sim em um exercício da natural agressividade infantil (Freud dizia que toda criança é um perverso polimorfo). Porém, a família e aqueles que ‘apontam arminhas em campanha como projeto de que o indivíduo se dê uma falsa segurança’ não podem ficar, simbolicamente, nesse viés.

Essas questões dizem, na singularidade, como nos relacionamos com o inseguro, subjetivamente, implicando na interação com um mundo que, no processo civilizatório, ainda é violento e perigoso, demandando segurança nas relações familiares, sociais e nas políticas públicas.

Participando de uma pesquisa importante sobre tudo que envolve segurança, iniciativa da Prefeitura de Porto Alegre e Banco Mundial, pude expor meu olhar de psicólogo social e psicanalista. Trouxe a importância de que o foco da segurança não pode ser simplista, como, de modo higienista, apenas recolher moradores de rua. Até porque grande parte deles não é perigosa, mas psicótica, vivendo errantes pelas ruas (um sintoma desta estrutura) e não se adaptando às regras, às moradias fechadas.

Junto com a prefeita da Praça Brigadeiro Sampaio, Marivane Ahanha Rogério, circulamos por vários pontos do centro, registrando nossas impressões em relação à insegurança em cada local. O olhar feminino e da conselheira tutelar foi de grande valia.

Eu me dei conta de que minha maior questão, como homem, era pela via da empatia com quem mais sofre violência e roubos no centro, mulheres e idosos. Nesta semana, tivemos estatísticas de que a cada 10 minutos uma mulher sofre violência em nosso estado.

Também dei meu depoimento como militante LGBTQIANPN+: dos riscos e inseguranças em um país que mais mata esta população. A questão fiscal, tributações e isenções fazem parte de um desafio que equilibre o necessário às ações sociais, sem gerar desemprego. Utopia: se a burguesia abrisse mão da “segurança” crescente de seus lucros, pagando mais impostos, a sociedade seria mais segura, podendo investir mais em tudo, com menos violências.

O marco temporal retomado joga, de modo inconstitucional e antidemocrático, as comunidades indígenas na insegurança, mas seguindo lutando junto com o governo Lula e a ONU contra essa crueldade instituída.

Boas novas da semana que trazem segurança:
– A criminalização do bullying e cyberbullying.
– Na busca de uma Porto Alegre mais segura, foi adotado 10 totens de 4m pela Secretaria Municipal de Segurança, em pontos como Orla, Redenção e Rodoviária.
– E na potencialização de mais segurança jurídica aos direitos humanos, tivemos a entrada de Flavio Dino no STF.

Construir políticas públicas de segurança passa por uma visão interdisciplinar e ações intersetoriais: mobilidade urbana, arquitetura, iluminação, saúde mental, lazer cultural e inclusive a condução de cães. No que tange à subjetividade, educação, assistência social e psicologia sem preconceitos são fundamentais.

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Gaio Fontella
Gaio Fontellahttps://realnews.com.br/category/opiniao/blog-do-gaio/
Gaio Fontella (Psicólogo, psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS, comentarista e produtor do “Café com Análise”, no Youtube.
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