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Novembro Azul e o Toque Que Muitos Machos Temem

Por conta da campanha “Novembro Azul”, importante na prevenção do câncer de próstata, trago o debate sobre o que tem de subjetivo no medo estatisticamente predominante em muitos homens de fazerem o exame de toque. Segundo pesquisa da Datafolha (2009), a adesão baixa ao exame de próstata, 77%, é devida ao preconceito. A examinação de sangue PSA é mais aceita. Ambos são indicados para homens a partir da idade de 45 anos.

O toque retal apareceu sem resistência apenas em 32% dos brasileiros entre 40 e 70 anos (estes denotam não duvidarem de sua masculinidade, que não está em prova com este cuidado). Em 2017, conforme o mesmo instituto de pesquisa, 21% não acharam que o exame de toque fosse coisa de macho; 38%, que é desnecessário.

Relevante é lembrarmos o quanto a próstata é um órgão exclusivamente masculino. A testagem é acessada pelo ânus, que por sua vez não tem um gênero definido.

O curioso, talvez muitos não saibam, é que o ‘Ponto G’, do orgasmo masculino, é prostático. Evidente que nas contrações pélvicas em qualquer relação, a região é estimulada.

Que fique bem claro: a capacidade orgástica de um homem independe de ser tocado prostaticamente, pois isso inviabilizaria o prazer heterossexual convencional ou o do homossexual ativo. Relevantes pesquisas apontam que homens com vida sexual ativa têm menos riscos desse tipo de câncer. Por estas e outras, o medo é perigoso, fantasioso e imaginário.

Psicanaliticamente, as peculiaridades da sexualidade masculina foram vistas por Freud: embora diferenças anatômicas tenham sido consideradas na subjetividade humana, estas não destinariam gênero (tampouco orientação sexual), que passa por identificações na elaboração edípica.

Pode ser bem pontual o constrangimento dos homens que temem o exame de toque: imaginação da destituição do lugar de ativo. É outra grande ignorância. Segundo o psicanalista Jacques Lacan, atividade e passividade não estão atreladas à masculinidade e feminilidade. Mas são componentes de um circuito pulsional que é fundamental na constituição do sujeito psíquico, que a criança inaugura narcisisticamente no olhar, ser olhada, se fazer olhar; tocar ser tocada se fazer tocar, que seguimos reproduzindo.

Considerando que o exame de toque é feito por um profissional (testemunho ter feito e foi como um exame comum), temos um machismo paradoxal: Seria por achar que “não é coisa de macho”, como diz o personagem Ramiro, que é apaixonado pelo Kelvinho, na novela “Terra e Paixão”? Ou existe um medo que um gozo seja despertado?

Ainda que surja um prazer, bom saber que muitos homens heterossexuais, na intimidade, se deixam penetrar por suas companheiras com um dedo ou algo na função de um pênis. E isso não implica que sejam gays. Muito pelo contrário: têm tanta confiança no seu gênero e orientação sexual que se permitem experimentações, ampliando o erotismo corporal ou ainda a bissexualidade.

Existem evidências de que a massagem prostática é também salutar para o órgão. Com isto, uma boa pesquisa seria sobre se a relação beneficiaria os homossexuais passivos que até no próprio meio da diversidade ainda são diminuídos pelo machismo que abordamos.

O cuidado importante na campanha “Novembro Azul” deve ser permanente. Segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer), o câncer de próstata é o segundo que mais mata homens no país. Conforme a HapVida, 90% dos casos podem ser curados com precoce diagnóstico. Que o medo, tão inibidor do exame de toque, na prevenção oncológica, seja ressignificado, quem sabe numa demanda de análise. Comecem se tocando!

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Gaio Fontella
Gaio Fontellahttps://realnews.com.br/category/opiniao/blog-do-gaio/
Gaio Fontella (Psicólogo, psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS, comentarista e produtor do “Café com Análise”, no Youtube.
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