Não é de se espantar o fundamentalismo vir a atacar as relações homoafetivas e as conquistas legais da comunidade LGBTQIAPN+, com sua hipocrisia ultrapassada, que não acompanha a evolução do conceito de família, com seu parâmetro de cura e saúde mental.
Se acham que uma relação homossexual é perversa, saibam que sim, mas entendam melhor o sentido: Freud não a tirou do campo das perversões, mas do campo patológico.
Portanto, enfrentando a psiquiatria do século 19, a visão Freudiana foi pioneira em inaugurar que “cura gay” não existe, por não ser doença a homoafetividade: tudo que desvia do reprodutivo é pervertido, como sexo oral e anal, independente de gênero e orientação sexual. (Freud não tomou o caso de uma jovem homossexual como demanda de tratamento).
Com ironia, sempre digo em palestras: “Sou a favor da cura gay!” E completo, dizendo isto para quem deseja “sair do armário”.
Quando nos deparamos com o suicídio da jovem lésbica Bolsonariana, Karol Eller, após ter enunciado sua “cura gay”, fica evidente o quanto este imaginário imposto pela visão fundamentalista é que foi responsável pela passagem ao ato.
Nisso, temos um assassinato, quando a significação de saúde mental fica amarrada à heteronormatividade, sem deslizamento do sujeito com seu desejo, alienado aos ditames do preconceito religioso, num ambiente cujo supereu é cruel, mortífero, insustentável por eles mesmos no modelo familiar que impõem.
A contradição da família “normal” bolsomínia, exemplar, é tamanha, justo pelo recente vazamento da relação homossexual de Jairzinho Bolsonaro. Aqui não se trata de desaprovar a orientação dele, que se mostra como “hétero”, “pegador”, orgulho do pai Bozo, por não ter “fracassado”, mas da hipocrisia!
A psicanálise não conceitua o desejo como algo sem limites, num meio termo entre Sade e Kant, gozo e lei que nasce da interdição ao incesto.
Na perspectiva Foucaultiana, historicamente os saberes e poderes instituídos se valeram de um controle dos corpos, uma regulação do prazer numa padronização inclusive para os heterossexuais e sobremaneira aos homossexuais.
O movimento LGBTQIANPN+ avança cada vez mais, numa luta que Foucault apontava para além do prazer sexual, mas pelos direitos civis igualitários, “um modo de vida pode ser partilhado por indivíduos de idade, estatuto e atividades sociais diferentes”.
Nossa constituição fundamenta a igualdade de direito, não fazendo ressalvas impeditivas pela questão de gênero e/ou orientação sexual.
O casamento homoafetivo, garantido pelo STF em 2013, é a maior arma contra o retrocesso vindo do Projeto PL580/07. E no que tange saúde mental como garantida pela heteronormatividade, é algo insustentável por falta de coerência de quem é miliciano, corrupto, terrorista, contra a democracia.
Segundo o Psicólogo Jean Ícaro, autor de “Cura Gay, Não há cura para o que não é doença”, o Brasil foi pioneiro, com autoridades em saúde mental, a se colocar contra as terapias de conversão de gays, lésbicas e bissexuais, tendo base na Resolução nº 01/99 do CFP (Conselho Federal de Psicologia).
Perversão patológica é o cerceamento da livre manifestação de afeto da diversidade sexual, que não prejudica ninguém que tenha sua heterossexualidade resolvida. Porém não atende aos interesses dos que usam hipocritamente a normatização do que é família, como pilar base do fascismo, na aliança TFP (Tradição, Família e Propriedade).