Por uma páscoa à brasileira

Nossa civilização ocidental é historicamente marcada pelo viés judaico-cristão. A Páscoa, independente da fé religiosa, produz subjetividade e favorece associações culturais e políticas.

A figura de Jesus, que morre e ressuscita como símbolo de libertação, desconstrói o mito da ordem primeva do pai perverso que gozava de tudo e precisava ser morto para instalar a exogamia e um matriarcado, como bem relatado por Freud em “Totem e Tabu”. Jesus não só morre de modo sacrificial, mas ressurge como filho de Deus eternizado, trazendo uma mensagem de liberdade, equidade, compaixão e amor.

A cristandade ainda resiste, mais de dois mil anos depois, em ter uma práxis coerente com a mensagem do mestre. Jesus converteu seu perseguidor, Paulo de Tarso, no caminho de Damasco: nada é mais importante que o amor, no sentido amplo.

Esse amor, ainda que utópico numa sociedade dividida em classes, reivindica permanentemente que não haja desigualdades. Os primeiros cristãos viviam num comunismo primitivo.

Maria foi respeitada e santificada pelo filho e pelos apóstolos, sem esquecermos de Maria de Magdala, cujas fake news da época a difamavam como prostituta por não ter se submetido ao patriarcado e a um casamento forçado (a série na Netflix é surpreendentemente boa). Esse respeito ao feminino segue como demanda por integridade física, diante de tanto feminicídio, valorização no trabalho e no geral.

Jesus, como liderança política, enfrentou com firmeza o jugo do imperialismo romano. Quando expulsa os mercadores do templo, deixa um legado que religião não pode ser comércio e, tampouco, agente de manipulação dos interesses dos poderosos.

O “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, diante da cobrança exorbitante de impostos dos romanos, nos serve para o momento atual do Brasil, no qual se afigura a esperança de uma reforma tributária equânime. A largada dos ministros Haddad e Simone Tebet é positiva: sem aumento de tributos, sem sonegação, num arcabouço fiscal que permite maior receita e favorece o crescimento econômico e as metas sociais.

Das lições metafóricas de Cristo, ainda temos o “dar a outra face”, que não pode ser vista como impunidade ou masoquismo: Lula, que já fez muito em todas as áreas, tirando o Brasil da linha da miséria, serve bem a lição, que o ódio fomentado pela burguesia cruel brasileira, com o midiático e fake news, possam ser superados. E a Bolsonaro, seus filhos, seus micianos, a Moro e todos os corruptos, idem: pagando por seus crimes.

Em tempo: que haja um ressurgimento educacional na prevenção que não facilite assassinos de crianças, como ocorreu em Blumenau. E no que tange à segurança escolar, o governo Lula já tomou providências imediatas: 150 milhões estão sendo destinados para reforço de patrulhamento a fim de evitar ataques às escolas, e vai criar grupos de discussão do tema e ampliar o contingente de policiais monitorando a deep web.

Com isso, o governo atual marca uma diferença radical do anticristo. Nele, o “deixai vir a mim as criancinhas” era infernal: descuido com a Covid e estímulo “lúdico” ao armamentismo. Esta é a Páscoa da ressurreição da esperança brasileira: se não existem líderes perfeitos, Cristos, resta-nos apostar nos comprometidos, humanitários, democráticos, que já estejam fazendo um Brasil melhor, como Lula fez e está fazendo.

E aos Barrabás, que roubam não somente joias, mas a democracia, temos que exigir os rigores da lei! Apostamos no ressurgir de um “caminho” (dos direitos sociais, individuais e humanos), da Verdade (no combate às mentiras e injustiças) e da vida (das principais forças produtivas: homem e natureza).

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Gaio Fontella
Gaio Fontellahttps://realnews.com.br/category/opiniao/blog-do-gaio/
Gaio Fontella (Psicólogo, psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS, comentarista e produtor do “Café com Análise”, no Youtube.

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