Vilma Dalberto Raminelli reside em Campestre, interior de Sobradinho, a 234 km de Porto Alegre. Seus pais eram agricultores e, desde criança, trabalhou na lavoura na produção de fumo em corda, trigo, feijão e milho. Aos 9 anos, foi à escola por um período de um ano e no segundo ano foi morar com uma tia e frequentava a aula até a hora do recreio. Depois, tinha que ir para casa cuidar das filhas da tia. A pedido de seus pais, retornou à casa deles, pois precisava ajudar na lavoura, e assim não voltou mais para a escola. Dona Vilma lê com dificuldade.
Quando casou, em 1963, com seu Natalino Raminelli, passou por muitas dificuldades, pois trabalhavam em uma propriedade dando 40% da produção. Assim, foram trabalhando por alguns anos até adquirirem uma pequena propriedade. Na época, produziam alimentos para o consumo próprio, como batata, trigo, feijão, e a renda vinha do fumo de corda que era vendido para Eugênio Andres. Também tinham uma vaca de leite que produzia leite para o consumo, e o que sobrava faziam queijo para vender e comprar o que faltava para a cozinha. Anos se passaram, e venderam aquela propriedade e compraram outra maior. Quando vieram morar no Campestre, continuaram plantando fumo e alimentos para o consumo, como feijão, arroz, milho, trigo. Também criavam galinhas e porcos para o sustento da casa. Tinham vaca de leite, e por ser mais perto da cidade, faziam queijos e toda sexta-feira levavam as encomendas e entregavam nas casas em Sobradinho. Isso por um longo tempo, e até hoje Vilma tem vaca de leite e ainda faz alguns queijos que as pessoas encomendam ou vão buscar na sua casa. Isso virou tradição já. Vilma fez cursos para se aperfeiçoar na fabricação de queijo através da Emater e também fez visitas à fábrica de queijo. Participavam da rota dos casarões, serviam o café, mas por seu casarão ser muito antigo e precisar de reforma, pararam de servir.
Vilma tem dois filhos, que ela sempre incentivou a estudar. Seu filho Dirceu fez só o ensino fundamental e não quis mais estudar, preferiu trabalhar na lavoura. Sua filha Iliane sempre gostou de estudar e hoje é diretora de uma escola de educação infantil. Fez faculdade, pós-graduação e continua buscando mais conhecimento. Vilma comenta que, por não ter tido a oportunidade de estudar, talvez não tivesse passado tanto trabalho. Trabalhar na lavoura, fazer a comida à noite para levar no outro dia na roça não é fácil. Dona Vilma conta que antigamente as mulheres não podiam sair sozinhas, só acompanhadas pelo pai, mãe ou irmão. Naquela época as mulheres não podiam usar calça, pois eram criticadas, podiam apenas usar saia e vestido. Nem ao menos uma bermuda era permitido mulher usar.
“Nunca devemos desistir de nossos sonhos. Eu sempre segui em frente em meio a todas as dificuldades, sempre gostei muito de estar no meio das pessoas de conversar, isso me faz muito feliz. Aos 80 anos, tenho muito orgulho de ser a mulher que sou” encerra dona Vilma.