Por mais que se busque alternativas ideais em um cenário tão triste, a realidade é que o julgamento no processo penal não deveria se prestar aos interesses das vítimas.
O processo penal deveria servir como uma forma de coibir os abusos da vingança.
Uma sociedade deveria esperar do Poder Judiciário a moderação e a frieza da aplicação das leis aos réus.
As leis devem representar o que a média da sociedade espera de um julgamento e o julgador deve se manter em equilíbrio para conduzir o processo com igualdade de armas entre acusação e defesa, com o objetivo final de se aplicar a lei de forma comedida ao caso concreto. Pela lei, jamais teríamos um júri popular pela tragédia ocorrida.
Contudo, a comoção faz com que se confunda a absolvição dos escolhidos para o banco dos réus com impunidade.
Existem várias formas de se responsabilizar quem deveria evitar a tragédia e não agiu como deveria. No campo da área civil, muitas possibilidades surtiriam melhores resultados aos parentes das vítimas. Uma indenização do Estado, medidas preventivas e restaurativas junto a sociedade e aos familiares, os réus do acidente poderiam colaborar com a elaboração do processo de luto, enfim, tudo poderia ser muito melhor em outra área.
Contudo, o que se busca é vingança penal.
Querem pessoas presas para responsabilizar e sentir que ocorreu punição pelas mortes decorrentes do acidente. Alguns atores processuais apenas querem palco. Querem dar discursos políticos, vender palestras, faturar com o sangue das vítimas e colocar pessoas eleitas em masmorras para desviar o foco da realidade.
O “julgamento” é uma farsa e já está pronto. O Poder Judiciário pode anular o teatro quantas vezes quiser, o fato é que nem deveríamos ter um Júri Popular, mas teremos.
Por mais brilhantes que sejam as defesas dos combativos advogados, o resultado final nós sabemos que será condenatório.
Quando a mídia entra nos processos penais e fica por anos ajudando a explorar a tragédia em uma perspectiva política de fazer valer a vingança, jamais teremos um julgamento justo. Os eleitos para serem punidos no acidente serão condenados como genocidas, enquanto os verdadeiros genocidas são tratados muitas vezes como vítimas da própria torpeza, das circunstâncias e mitificados por alienados, como aconteceu sempre na história da humanidade nos grandes genocídios.