Os gastos com o cartão corporativo da Presidência da República ao longo da gestão de Jair Bolsonaro (PL), chegaram a ao menos R$ 27,6 milhões e englobam itens como diárias em hotéis de luxo, cosméticos, sorvetes e padarias.
Durante os quatro anos de mandato, Bolsonaro gastou mais de R$ 680 mil em um “mercadinho gourmet”, o Mercado La Palma, um dos mais caros de Brasília (DF).
Com lojas na Asa Norte e na Asa Sul, os dois bairros mais nobres da capital federal, o La Palma vendeu gêneros alimentícios para a Presidência desde 2 de janeiro de 2019, segundo dia de governo Bolsonaro. A compra mais cara foi de R$ 4.021,90 e, na média, o valor gasto foi de R$ 540.
O “mercadinho” preferido do ex-presidente tem como slogan “o paraíso do gourmet”, em referência aos produtos importados vendidos. “Em casa ou em um bom restaurante, todo chef tem seus segredos. Bons ingredientes é um deles”, diz um dos textos promocionais do site do La Palma.
Nesta linha também constam despesas feitas junto ao restaurante Sabor de Casa, um “acanhado restaurante” de Boa Vista, em Roraima. O local, que fornece marmitas promocionais a R$ 20, recebeu R$ 109 mil no dia 26 de outubro de 2021, data em que Bolsonaro esteve na cidade para verificar a situação dos refugiados venezuelanos alojados no município. O estabelecimento já havia recebido pagamentos de R$ 28 mil e R$ 14 mil em setembro.
No sistema constam ao todo, 22 CPFs de servidores responsáveis pelas compras, mas apenas dois concentram a metade das notas fiscais. Dos 59 tipos de despesas feitas com o cartão, os gastos com hotelaria foram os que mais consumiram recursos. Pelo menos R$ 13,6 milhões foram desembolsados em hospedagem: muitas vezes em locais de luxo, contrariando o discurso adotado muitas vezes por Bolsonaro, que afirmava ser contrário a esbanjar dinheiro público quando é possível optar pela simplicidade.
Dono do La Palma foi acusado de xenofobia
Em outubro, durante o segundo turno das eleições presidenciais, uma mulher usou as redes sociais para denunciar a xenofobia dentro da unidade da Asa Norte do La Palma. Segundo o relato publicado por Edlene Silva, o proprietário do local ofendeu a cliente por ser baiana.
De acordo com o depoimento, o homem perguntou onde a cliente teria nascido, devido ao sotaque. Ao responder que é natural de Salvador, na Bahia, ela afirma que o dono do estabelecimento chamou os baianos de “preguiçosos”.
“É daquele lugar que [o presidente Jair] Bolsonaro perdeu 1 milhão de votos porque ofereceu um milhão de empregos para baianos que não gostam de trabalhar, são preguiçosos”, teria dito o homem.
No relato, a cliente comenta que se sentiu agredida. “Me senti extremamente desrespeitada, agredida e vítima de xenofobia. Para evitar um confronto com um bolsonarista descontrolado e possíveis consequências violentas desse senhor preferi dizer que essa afirmação de que éramos vagabundos e preguiçosos era um preconceito e uma inverdade e me retirei. Nunca mais piso meu pé nesse lugar preconceituoso e desrespeitoso”, escreveu a cliente.
Em nota divulgada à época, o estabelecimento informou que trabalha para apurar o caso. “Nos desculpamos por qualquer desconforto que possa ter sido causado, e reafirmamos nosso compromisso com reforçar nossos valores de multiculturalidade e diversidade no melhor relacionamento possível com os clientes, por parte de nossos administradores e funcionários”, disse a firma.