Hoje compartilho com amigo leitor, uma experiência da doce rotina da paternidade, assim como a abordagem de um assunto muito sério, que expõem nossos pupilos a riscos.
Quando cheguei em casa próximo às 18h, fui recepcionado por minha filha, uma criança incrível, como todas da geração Z, amorosas e atenciosas. Atualizando de forma eufórica seu dia na escola. Antes mesmo de iniciar este “causu”, como diria os mais antigos, é importante fazer uma referência a escola que ela estuda, trata-se da escola Castelo Branco, uma grande pequena escola, que tem como referência a atenção e dedicação dos professores e funcionários, uma vez que ainda segue aquele modelo de escola pequena, muito mais eficiente para criar vínculos com pais e alunos.
As escolas antes conhecidas como ensino fundamental incompletos – aquelas de primeira à quarta série, que muitos da minha geração estudaram, essas escolas tinham um controle melhor, os alunos predominantemente tinham uma média de idade e ”nível parelho”. Todos se conheciam, pais, professores, servidores e alunos, um modelo substituído de forma inexplicável, pois para a maioria dos pais que viram naquele formato uma eficiência e escola bem melhor, do que hoje em dia que mistura de crianças com adolescentes, o que geralmente é realidade da maioria das escolas.
A escola que minha herdeira – risos! – estuda tinha o formato de escola que eu recebi a minha educação/ensino (a grande escola Sete de Setembro), contudo de alguns anos prá o perfil da escola mudou, tendo crianças convivendo com adolescentes já muito precoces, o que inevitavelmente influencia os pequenos e pequenas, mesmo assim o Castelinho segue firme. Acredito que a maioria dos pais e mesmo professores sentem falta da “antiga organização escolar” organizada pelo perfil dos alunos (idade), “onde crianças convivem com crianças e adolescentes convivem com adolescentes”, quando possível.
Voltando ao final do dia, após ouvir sobre matérias, leituras da professora – que segundo minha filha é a melhor profº do mundo, essa semana! Depois de toda o entusiasmo contagiante de uma criança, e mostrar a dancinha do tik tok, – sendo que a decorei pra tentar dançar com ela, já estava defasada e véia (isso com apenas umas duas semanas), o tik tok é rápido, piscou passou! Ela saiu com a pergunta, que acredito que alguns pais já tiveram que responder, estava preparado para responder sobre a reprodução humana, namoro, passeios, dormir na casa de alguma colega ou sobre vida e morte, essas coisas. Então veio um, “por que não posso ter um celular?”, claro que fiquei aliviado por um lado, principalmente por não precisar recorrer a mãe dela para responder algo sobre menina, afinal quem é pai só de meninas sabe bem as saias justas que passamos.
Essa era fácil de responder, tasquei logo um “por que não”, mas não foi o suficiente, ela estava determinada em fazer do início da noite um debate, deve ter puxado a mãe dela, justo na hora das notícias, quem disse que mereço chegar em casa, dar comida para os peixes, ver como está minha gata e sentar com uma xicara de cafe vendo as notícias, sem precisar passar por uma inquisição por causa de um celular?
Aí entrei no jogo, na esperança de não só ganhar mas dar um ponto final na história do celular na escola, era promissor um adulto contra uma criança de 11 anos, mas esqueci que não era uma criança qualquer, era filha da mãe dela, e provavelmente já tinha visto e aprendido a incrível arte de ser mulher e negociar com um bombardeio de questões cada vez mais complexas e no final apelar para o sentimental – Teoria a ser melhor estudada.
Eis o diálogo mais próximo da realidade possível, Comecei pelo óbvio,
– Tu não precisa de celular a escola é pra estudar,
– Todo mundo tem celular na minha sala – Ela,
– Tu não é todo mundo – Essa foi fácil!
– As professoras deixam pesquisar no celular, disse ela,
– Na minha época, pesquisamos em livros e com a cabeça – A nostalgia é aliada!
– Isso era no tempo antigo pai, agora é moderno,
– Então agora eu sou velho – Geração Z sem noção!
– Sim o Sr. está velho né,
– Tu não precisa de celular, isso é só pra incomodar, já nervoso!
– Mas eu posso precisar falar contigo ou com a mãe, uma emergência,
Viu, começou a apelar, nessa hora, ela já estava com aquela cara de gato de botas do Shrek!
– Mas eu vou usar para fazer as pesquisas e vai ajudar nas notas, conversar com as colegas! Disse ela com a cabeça inclinada para a direita.
Nessa hora, já estava pensando em chamar a mãe dela e passar a bola. No fim antes que ficasse muito complicado pra mim, apelei à ditadura.
– Tuas irmãs estudaram na mesma escola sem celular, só ganharam celular depois dos 15 anos, essa é a regra, e acabou.
Mas não tinha acabado, ela apelou para a mãe, que encerrou a discussão em uma frase, “a culpa é do teu pai”. Sim, estava sozinho nessa, elas são unidas e aprendem desde cedo, estava em desvantagem, então fui dormir.
Tirando essa questão bem pessoal (…), sobre o celular para uma criança, é crescente as recomendações de especialistas que as crianças estão cada vez mais hipnotizadas pelo pequeno aparelho. As constantes reclamações de educadores, observam crianças cada vez mais precoce, totalmente dependentes do celular, principalmente aquelas que perdem noites ou dias inteiros em jogos online, assistindo vídeos ou mesmo fazendo fotos e postagens em redes sociais é sem dúvida preocupante.
No início do mês uma amiga fez um contato através do feedback da REAL NEWS, sobre a preocupação com seus alunos de escola infantil, que estavam visivelmente influenciados por jogos online e rotinas de redes sociais. Aos pais mais atentos é possível o dialogo e orientação, contudo a maioria tem conhecimento que os filhos mexem e usam celulares constantemente, mas às vezes ignoram, um recurso perigoso usado por alguns pais que entendem que o filho está “bem e calmo”. O equívoco dessa linha de pensamento está nos danos físicos causados à criança e a médio e longo prazo os danos psicológicos e sociais.
Em 2019, números já alertavam para influência negativa do acesso de crianças por celulares – como pode se ver no sitio: http://centroamadesenvolvimento.com.br/os-riscos-do-uso-de-celular-na-infancia/, atualmente os números são maiores, assim como os danos, como problema de visão, irritabilidade, isolamento social, falta de interação com outras crianças, entre outras questões apontadas por especialistas. Mais recentemente a reportagem, “Como uso excessivo de celular impacta cérebro da criança” de André Biernath, https://www.bbc.com/portuguese/geral-60853962, é um alerta que todos deveriam dar atenção.
O debate é extenso, certamente a correria que muitos passam em seu dia, fazem do celular um aliado, distraindo a criança e aparentemente fazendo entretenimento, contudo o mundo virtual tem se mostrado muito mais perigoso que o mundo real, principalmente no que diz respeito a crianças, expostos a todo tipo de loucuras modernas, que a internet cria.
No meu caso a regra é clara, no momento celular não é para criança, quanto mais próximo acompanhar os filhos melhor, ensinar as dificuldades reais, interagir com outras pessoas, mesmo sendo inegável a grande ferramentas de pesquisa que se tornou o celular e similares. Mas ainda somos os adultos, podemos até ser chamados de velhos ou antigos pelas crianças, mas ainda somos os adultos e precisamos preservar as crianças dos perigos do mundo real e virtual, que elas não enxergam, esse dever é naturalmente dos pais e responsáveis.