Em meio a tantos assuntos sobre política, guerras, crises e demais situações que fazem parte dos nossos dias, optei em escrever sobre algo relativamente positivo.
No sábado, como muitos de nós, acordei cedo cheio de bons planos para aquele que seria o dia de descanso e de colocar as tarefas de casa e trabalhos eventuais em dia, isso só pode acontecer depois de tomar um café. Ainda bem que muitos de nós conseguimos acordar no sábado e ir ao mercado ou padaria comprar o que precisa para tomar um café da manhã. Parado na fila, uma das muitas filas que enfrentamos rotineiramente, dois adolescentes aparentando uns 12 ou 14 anos no máximo, me olharam e educadamente pediram para alcançar uma lata de energético que estava na minha frente. alcancei! A resposta que tive foi, um longo “obrigado tio…” e “valeu tio…”. Seguindo na fila, mas com pensamento longe, lembrei de todas as pessoas que já tinha chamado de tio, sem nunca perceber o quanto a maioria daquelas pessoas eram realmente muito jovens. Não é só pelo costume chamar alguém mais velho de “tio”, de forma respeitosa e carinhosa, a questão é que percebi que aos olhos de muitos realmente sou um tio – não o tio da sukita! pra quem lembra né! – mas um tio como aqueles que lembro quando era bem mais jovem, que pareciam tão distantes da minha idade e na verdade não eram.
Embora um jovem ainda, com meus 38 anos, e muito a frente a aprender com a vida e com os mais velhos, penso que atualmente estou melhorando a cada dia como pessoa, cidadão, crítico, enfim (…), e que tudo é um ciclo, naquele momento imaginei o que pensavam aquelas pessoas de vinte poucos ou trinta anos que eram chamados de tios, assim como aqueles lá pelos cinquenta anos que às vezes chamamos de tio também. Acredito que crescer seja mais que a idade e o tamanho, atualmente eu e meus amigos da mesma média de idade, estamos bem, no meu caso cultivei “alguns muitos cabelos brancos” – as luzes naturais que o tempo ou o estresse nos dá – que insisto sustentar por aí que é o charme do grisalho, discurso de quem não pinta o cabelo! De fato, vamos crescendo e ficando melhor, é o que sinto e vejo por amigos e familiares, não há coisa mais divertida depois que se passa que a juventude, esperanças, ideias fantásticas, paixão, descobertas e aventuras, fora a incrível certeza de estar sempre certo “que o mundo gira em torno da gente”, ser jovem é ser aprendiz que acha que não precisa aprender nada, doce engano. A fase adulta por outro lado é ter a certeza que não se sabe nada, que o bom é buscar respostas e aprender durante o caminho.
Ser adulto e crescer é começar a ter certeza que as dúvidas é o que nos move, aprender todos os dias e querer ir além, é pensar em viver com alguém que goste e se der sorte morrer ao lado dessa pessoa, crescer é programar o futuro com segurança, pé no chão, saber o que faz, quando podemos ultrapassar com segurança, saber que devemos voltar pra casa, é começar a contar o tempo por meses, salários ou prestações, é ser apresentado aos boletos e ter a satisfação da compra a vista.
Estar seguro, também é sinal de crescimento, estar seguro com seu corpo, sem se preocupar com a opinião de terceiros, cuidar-se sim, mas sem se sentir um patinho feio como quando somos adolescentes, é valorizar os cinco sentidos mais que a marca da roupa ou tênis, estar feliz por poder abrir os olhos e caminhar, ter liberdade e lutar por ela, ter segurança de expor sua opinião com convicção e ter a humildade do equívoco ou erro, crescer é assim, uma soma de aprendizados e superações que vai se adquirindo ao longo da vida. Nunca entendi a alegria dos idosos (as vovós e vovôs) nos bailes de terceira idade, anos luz à nossa frente no entendimento da vida, acumuladores de saberes e experiências, quando era adolescente as pessoas mais velhas, eram apenas velhas simples assim, afinal aqui no Brasil o idoso é descartado (infelizmente), da convivência social e familiar facilmente, na maioria das vezes, diferente de outras culturas como a oriental e italiana – quem não lembra dos velhos “consigliere” do Poderoso Chefão (um dos 10 melhores filmes do século, tirando a violência e misoginia, recomendo!), todos velhos e experientes.
Talvez o que sinta hoje quando vejo adolescentes passando pelas mesmas experiências (com bem mais técnologia claro), seja o sentimento de alguém mais idoso quando vê nossa geração, eles devem ter uma visão plena da vida, limitados somente pelo funcionamento do corpo, que já não não são de um jovem de vinte poucos anos. O quanto poderíamos somar e aprender com esses mestres sábios, talvez teríamos uma sociedade mais serena e equilibrada? Talvez sim. Lembro de uma aula de história na escola Miguel Lampert, do professor Joel, que dizia que “na idade média a construção de catedrais e igrejas às vezes duravam décadas, os mestres construtores, muitas vezes idosos, passavam todo seu conhecimento aos aprendizes que tinham a missão de concluir as obras e também passar o conhecimento para frente, muitas vezes os velhos mestres passavam a conviver com os aprendizes ou acompanham as construções até o fim da vida”, assim recebemos o conhecimento que permitiram algumas das mais fantásticas obras da arquitetura que temos até hoje, com o conhecimento sendo passado de geração em geração com atualizações e novas descobertas. Penso que nosso crescimento seja isso, aprender sempre e ensinar quando possível, ter a certeza que nossos filhos ou aqueles que testemunham nossa passagem levarão adiante o que somos, através das experiências e histórias vividas. Hoje penso assim, amanhã mais sábio, talvez descubra e aprenda algo melhor.
E assim, começou o sábado, quando cheguei com pão para o café, na sala, a TV estava ligada em vídeos do tiktok, então disse pra filha de onze anos de idade, “troca de canal e coloca nas notícias, no noticioso”, ela me olhou e educadamente disse um longo, “pai, tu é velho hein”.