Por muito tempo, o autismo foi associado quase exclusivamente a meninos. Essa visão limitada contribuiu para que milhares de meninas e mulheres autistas crescessem sem diagnóstico, compreensão ou suporte adequado. Na prática, muitos dos sinais do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em meninas seguem sendo confundidos com timidez, bom comportamento ou traços de personalidade considerados “aceitáveis” socialmente.
Especialistas e relatos de mulheres autistas apontam que o autismo em meninas costuma se manifestar de forma mais silenciosa. Entre os sinais mais comuns está o hiperfoco, quando a criança passa horas imersa em interesses específicos, muitas vezes de maneira solitária. Também são frequentes as dificuldades sociais, como o desafio para iniciar ou manter amizades, apesar do desejo de se conectar com outras pessoas.
Outro ponto recorrente é o chamado contraste de comportamento: meninas que demonstram comportamento exemplar na escola, seguindo regras e evitando conflitos, mas que em casa apresentam crises emocionais intensas. Essas “explosões” costumam ser resultado do acúmulo de estresse por tentar se adequar às expectativas sociais durante todo o dia. Soma-se a isso a seletividade alimentar e a sensibilidade sensorial, especialmente em relação a texturas de roupas e alimentos.
Quando essas meninas crescem sem diagnóstico e apoio, as consequências podem ser profundas. Muitas relatam sensação constante de isolamento, dificuldade em compreender a si mesmas e uma vida marcada pela falta de suporte emocional e profissional. Um dos impactos mais significativos é o chamado masking — o esforço contínuo e exaustivo de esconder características autistas para parecer “normal” aos olhos da sociedade.
Esse processo, embora funcione como mecanismo de sobrevivência social, cobra um alto preço emocional, contribuindo para quadros de ansiedade, depressão e esgotamento. Dar visibilidade ao autismo em meninas e mulheres é um passo fundamental para romper estigmas, ampliar diagnósticos corretos e garantir que essas pessoas tenham acesso ao acolhimento e às ferramentas necessárias para uma vida mais saudável e digna.



