Dezembro Vermelho reforça alerta para HIV e outras ISTs

Em 2025, o Brasil completa 40 anos do início do combate ao vírus da imunodeficiência humana (HIV) e à síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids). De acordo com o Boletim Epidemiológico HIV e aids, publicado pelo Ministério da Saúde, no início deste mês, 1.679.622 brasileiros são portadores do vírus do HIV. Apenas no ano de 2024, foram registrados 39.216 novos casos da infecção, número que poderia ser menor se alguns cuidados fossem seguidos pela população.

Por esse motivo, o mês de dezembro é escolhido para a conscientização sobre HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como a Clamídia, Sífilis ou Gonorreia. O debate, promovido pela campanha do Dezembro Vermelho, incentiva a prevenção e os exames regulares, uma vez que muitas dessas enfermidades podem ser silenciosas, ou seja, sem sintomas. "Rastrear ISTs não deve depender de esperar algum sinal, mas sim fazer parte do autocuidado, assim como checar a pressão ou medir colesterol".

O risco das ISTs assintomáticas

Em diversos casos, uma IST pode não causar sintomas no início da infecção ou causar sintomas tão sutis que são confundidos com outras doenças. "É como se o corpo estivesse convivendo com um ‘hóspede escondido’: ele está lá, agindo, mas você não vê a porta abrir nem ouve passos. Quando não há desconforto, a pessoa não procura atendimento — e a infecção continua evoluindo".

Segundo Guilherme, as ISTs assintomáticas aumentam o risco de transmissão, uma vez que alguém pode pensar estar saudável e fazer sexo sem os devidos cuidados. A ausência de sintomas também pode levar à demora para se iniciar o tratamento, o que gera riscos à saúde, como infertilidade, no caso de Clamídia e Gonorreia; lesões graves, no caso de Sífilis; e até evoluções mais sérias de HIV.

Assim, exames contínuos, principalmente após exposições de risco, como sexo sem preservativo, são a melhor forma de detectar a infecção o mais breve possível e evitar a disseminação ou complicações médicas.

Sinais de alerta para ISTs

Guilherme explica que existem indicativos que podem servir como sinal de alerta para que alguém procure um médico e faça exames para ISTs. De acordo com ele, "para várias ISTs silenciosas, quando o corpo finalmente ‘grita’, é porque ele já estava cochichando há bastante tempo. Isso não vale para todas — algumas ISTs podem se manifestar rápido".

  • HIV: febre baixa e prolongada, gânglios aumentados, emagrecimento sem explicação, cansaço acentuado;
  • Clamídia: corrimento discreto, ardência ao urinar, dor pélvica leve ou incômodo durante relações, sangramento fora do ciclo menstrual;
  • Gonorreia: corrimento mais evidente – amarelado ou esverdeado, dor ao urinar, "peso" na região pélvica. Em homens, pode causar inflamação dos testículos;
  • Sífilis: uma ferida indolor — que pode passar despercebida. Mais tarde: manchas pelo corpo, queda de cabelo localizada, placas na boca;
  • HPV: verrugas genitais. Em alguns casos, alterações no colo do útero detectadas em exame preventivo.

Quais são os exames e modos de prevenção?

Algumas ISTs, como o HIV, a Sífilis e a Hepatite, podem ser detectadas em testes rápidos feitos em Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA). Além disso, outros exames, como Pesquisa por Biologia Molecular (PCR) em urina podem ser usados para detectar Clamídia e Gonorreia. Os exames preventivos, como o Papanicolau, também podem ajudar a evitar o HPV, por exemplo.

"Para pessoas sexualmente ativas é recomendável fazer exames de IST pelo menos uma vez por ano. Para quem tem múltiplos parceiros ou sexo sem preservativo, o ideal é testar a cada três a seis meses".

O profissional também detalha uma série de práticas preventivas que podem evitar a contração dessas infecções. As vacinas contra HPV e Hepatites A e B, por exemplo, são uma forma de se proteger contra essas enfermidades. Além disso, é possível fazer uso de medicamentos como a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) ou o PEP (profilaxia pós-exposição), que protegem contra o HIV. "Para quem usa PrEP, é necessário fazer exames regulares conforme protocolo (geralmente mensais ou trimestrais)".

O que fazer caso contraia uma IST?

Guilherme ressalta que existem diferentes modos de tratamento para ISTs e que, em alguns casos, o tratamento requer maior atenção: "A Clamídia tem cura e é tratada com antibióticos simples, enquanto a Gonorreia também é curável, mas requer antibióticos orais e injetáveis, seguindo rigorosamente o esquema terapêutico devido ao aumento da resistência bacteriana. A Sífilis, por outro lado, possui cura por meio do tratamento com penicilina".

No entanto, existem ISTs que não possuem cura, porém, mesmo portando o vírus, é possível viver uma vida saudável. "O HPV não tem cura completa, porém suas lesões podem ser tratadas com cauterização, cremes ou outros procedimentos, e muitas vezes o próprio organismo consegue eliminá-lo. O HIV também não tem cura, mas o tratamento antirretroviral é altamente eficaz: permite vida normal e possibilita alcançar carga viral indetectável, o que significa ausência de transmissão sexual".

Nesses casos, Guilherme explica ser necessário informar os parceiros sobre o diagnóstico e tomar certos cuidados, como "realizar o tratamento adequado e o controle pós-terapia, utilizar preservativo — externo ou interno — e evitar relações sexuais desprotegidas até a confirmação da cura, quando aplicável".

No caso do HIV, o médico reconhece que ainda existem muitos estigmas. Ele explica que é falsa a informação de que o vírus seria transmissível por beijos, compartilhamento de itens como copos e toalhas ou pelo ar. Além disso, o tratamento correto pode garantir que não haverá transmissão sexual. "Cuidar da saúde sexual não é sobre moralidade, e sim sobre maturidade. ISTs silenciosas são como avisos que o corpo não dá — então o cuidado precisa ser um hábito. Testar é ato de autocuidado. Tratar é ato de responsabilidade, prevenir é ato de amor".

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