Na quarta-feira (17), circularam nas redes sociais publicações dizendo que faltava “uma semana para o Natal”. O detalhe pode parecer pequeno, mas revela algo maior: não faltava uma semana para o Natal, e sim para a véspera. O erro de data é simbólico. Mostra como, muitas vezes, falamos de datas e celebrações sem refletir sobre o que elas realmente significam — ou para quem elas realmente fazem sentido.
Existe uma pressa quase obrigatória em parecer entendido sobre a vida, sobre as festas de fim de ano, sobre a tal “magia do Natal”. Mas pouco se fala da realidade por trás das fotos bonitas. Muitas famílias passam essas datas separadas, marcadas por brigas antigas, agressões verbais e silêncios que doem mais do que a ausência física. Há feridas que não se curam com uma ceia farta ou uma árvore iluminada.
Quando criança, o Natal era sinônimo de alegria, como é para muitas outras: a expectativa pelo brinquedo desejado, o encantamento típico da infância. Crescer, no entanto, traz outra leitura. A data passa a escancarar um sistema que transforma afeto em consumo, empurrando famílias pobres a gastarem o que não têm — seja com presentes, com a ceia ou até com o amigo secreto imposto no ambiente de trabalho.
Neste ano, na tentativa de ainda se conectar com as festas, usei o último dinheiro recebido de um trabalho para comprar presentes aos parentes mais próximos. Pode parecer contraditório — e talvez seja. Mas foi uma tentativa de manter algum vínculo, de não se afastar completamente do que um dia significou união.
Ainda assim, o pensamento insiste em voltar para quem não aparece nas postagens: a população pobre que não tem sequer dinheiro para montar uma ceia de Natal ou Ano-Novo, quanto mais para comprar presentes. Enquanto uns discutem datas e contagens regressivas, outros lutam simplesmente para colocar comida na mesa.
Talvez esteja na hora de a sociedade abrir os olhos. Menos romantização, menos cobrança, menos consumo. E mais empatia, mais consciência e mais humanidade — não só no Natal, mas o ano inteiro.



