Romantização do Autismo Ignora a Realidade das Famílias Pobres no Brasil

Estou indignada ao assistir, todos os sábados, Marcos Mion romantizando o autismo em seu programa. Confesso que só acompanho porque é minha mãe quem assiste — sequer sei o nome do programa. Ainda assim, ouço com atenção tudo o que ele diz sobre o autismo.

É impossível ignorar o abismo social presente nesse discurso. Marcos Mion é rico, não enfrenta o SUS, não vive a realidade das famílias pobres do Brasil, que aguardam meses — às vezes anos — por diagnóstico, atendimento e tratamento adequado para seus filhos.

Como pai de uma criança autista, ele está certo em lutar por direitos para o Romeo. Isso é legítimo. O problema é que essa luta não inclui as famílias de baixa renda. Dar visibilidade na televisão não é o mesmo que garantir acesso a tratamento, inclusão real ou oportunidades concretas para que pessoas autistas possam crescer, se desenvolver e viver com dignidade.

Nos últimos dias, nas redes sociais, chamou minha atenção o posicionamento de diversas mães atípicas em relação a Mion. Elas estão certas — e muito — em criticá-lo. Cada crise enfrentada por seus filhos é devastadora, exaustiva e solitária. Não sei como foi a vivência do Romeo, mas é inegável que sua família teve acesso a uma estrutura que a maioria das famílias brasileiras jamais terá, como cuidadores, babás e acompanhamento especializado.

Tenho um afilhado autista e acompanhei de perto o sofrimento de toda a família durante cada crise, além da luta constante contra uma sociedade que insiste em negar direitos. Após muita batalha, eles conseguiram o benefício, vaga em escola pública com supervisora de apoio e algum acompanhamento — mas o tratamento adequado ainda não veio pelo Estado. Hoje, parte dele é pago com o próprio dinheiro do benefício.

À você, mãe atípica que está lendo este texto e se sente sem esperança: não desista. Sabe por quê? Minha comadre e as profissionais que acompanham meu afilhado conseguiram transformá-lo. Ele completa 8 anos na segunda-feira, e o orgulho que sinto de ser madrinha dele é imenso.

Não desista do seu filho por causa de uma sociedade que falha. Quem muda a realidade, todos os dias, são vocês.

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