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Humanização na Medicina: estudantes da Ulbra lançam projeto de acolhimento e apoio emocional

Estudantes de Medicina da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) lançaram, nesta terça-feira (23), o Reame (Rede Emanuel de Afeto, Medicina e Escuta), um projeto voltado ao acolhimento, ao diálogo e ao cuidado com a vida. A iniciativa é idealizada pelo Centro Acadêmico de Medicina (Camu) e pelo Núcleo de Acolhimento ao Estudante de Medicina (Naem), com apoio da instituição.

O Reame tem como propósito criar um espaço contínuo de escuta e troca de experiências entre acadêmicos e profissionais, estimulando vínculos mais sólidos, aliviando angústias e favorecendo o desenvolvimento humano e profissional.

O lançamento ocorre durante o Setembro Amarelo, campanha mundial de prevenção ao suicídio criada em 1994 nos Estados Unidos e oficializada no Brasil em 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

Os encontros do projeto serão mensais e abordarão temas como:

  • Primeiros desafios da Medicina
  • Espiritualidade e sentido na prática médica
  • Luto e perdas na formação médica

Saúde mental na formação médica

O reitor da Ulbra, Adriano Chiarani, destacou a urgência das conexões humanas em meio à hiperconectividade: “Vivemos hiperconectados, mas muitas vezes desconectados de nós mesmos e do outro. Emanuel, em hebraico, significa ‘Deus conosco’, e esse sentido de presença e cuidado se expande por meio de cada um de nós. Queremos que as pessoas encontrem significado e felicidade em sua caminhada”.

Para o coordenador do curso, professor Dr. Marcelo Guerra, a felicidade está nas relações: “Uma pesquisa centenária de Harvard mostra que o fator mais importante para a felicidade não é poder, nem dinheiro; são os amigos. Muitos alunos chegam pensando apenas em se tornarem grandes especialistas e acabam esquecendo de viver o presente da graduação. Precisamos formar bons médicos, mas também pessoas que saibam valorizar a vida”.

Uma homenagem que virou movimento

O nome do projeto homenageia Emanuel Pandini Pilon, estudante que deixou uma marca profunda nos colegas e inspirou a criação da rede.

A amiga e colega de curso, Laura Lemos, relembra: “Ele era generoso e cuidadoso. A sua partida deixou um silêncio imenso, mas desse silêncio nasceu o desejo de criar um espaço onde ninguém precise atravessar suas dores sozinho. A Medicina exige muito: noites em claro, cobranças, medos… e às vezes esquecemos que, antes de futuros médicos, somos seres humanos. O Reame é um convite para olharmos uns para os outros com empatia e coragem”.

Um problema que vai além da sala de aula

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1 bilhão de pessoas convivem com algum transtorno mental, mas mais de 75% não recebem tratamento adequado.

  • Só a depressão afeta 23 milhões de brasileiros e é uma das principais causas associadas ao suicídio.
  • Estudos indicam que estudantes de Medicina apresentam índices mais altos de ansiedade, depressão e ideação suicida em comparação a jovens de outras áreas.

O Reame surge para quebrar o isolamento, prevenir crises e oferecer apoio contínuo. Seu lema resume a proposta: “Afeto que transforma, escuta que acolhe”.

“Especialistas em gente”

Durante o lançamento, o psiquiatra e professor Dr. César Webber reforçou a importância da escuta qualificada: “Sempre digo aos meus alunos que desejo que sejam especialistas em gente. Precisamos estar atentos aos sinais de risco e oferecer apoio, porque esse é um compromisso de todo médico, seja ele psiquiatra ou não”.

Segundo a OMS, 97% dos casos de suicídio estão associados a doenças mentais não tratadas ou diagnosticadas tardiamente. Por outro lado, bons laços sociais, autoestima elevada, espiritualidade e resiliência atuam como fatores de proteção.

Um espaço que continua aberto

Além do novo projeto, a Ulbra já mantém o Naem, um espaço de convivência e acolhimento no prédio de Medicina, em Canoas. Lá, estudantes encontram café, professores, psicólogos e, principalmente, um ambiente para não se sentirem sozinhos.

O Reame, porém, amplia esse trabalho ao mobilizar os próprios acadêmicos no cuidado mútuo. A mensagem é clara: na Medicina, tão importante quanto salvar vidas é preservar a saúde emocional de quem cuida.

Foto: Bruna Santos/Ulbra

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Gabriel Gross
Gabriel Grosshttp://realnews.com.br
Estudante de Jornalismo e Ciências Sociais, em constante aprendizado e atualmente trabalhando na UFCSPA.
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