O mercado de câmbio encerrou a sexta-feira com forte movimento de valorização do real frente ao dólar. A moeda americana foi negociada a R$ 5,35 no fechamento das 17h, queda de 0,71%, atingindo o nível mais baixo desde 7 de junho de 2024.
No acumulado de 2025, o dólar já registra depreciação de 13% ante a divisa brasileira, confirmando a tendência de fortalecimento do real neste início de ano.
Divergência internacional
Enquanto no Brasil o câmbio favoreceu a moeda local, no exterior o comportamento foi distinto. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar em relação a seis moedas fortes, avançava 0,06% no fim da tarde. Entre as 31 moedas mais negociadas no mundo, o real foi a segunda de maior valorização no dia, chegando a registrar mínima de R$ 5,34 durante as negociações.
Fatores domésticos e externos
Especialistas avaliam que a combinação de fatores externos e internos ajuda a explicar a queda do dólar no país. No cenário internacional, a expectativa de que o Federal Reserve anuncie já na próxima semana o início de um ciclo de cortes de juros pressiona a divisa americana. Internamente, a taxa Selic ainda em patamar elevado mantém o Brasil atrativo para o chamado carry trade, operação em que investidores buscam rendimento em economias de juros altos.
Além disso, a recente decisão do Supremo Tribunal Federal, que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro, repercutiu no câmbio. Para agentes do mercado financeiro, a medida tende a reduzir incertezas sobre o quadro eleitoral de 2026, ao abrir espaço para novas lideranças, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, visto como nome de maior aceitação junto ao setor econômico.
Análises de mercado
De acordo com Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, a definição do STF contribui para maior previsibilidade política:
— Uma decisão dessa natureza elimina parte da incerteza e permite ao mercado projetar um cenário eleitoral mais estável — observa.
Já Marcos Oviedo ressalta o peso da política monetária norte-americana:
— O momentum de cortes de juros pelo Fed permanece forte. O real é a moeda que mais oferece diferencial de juros entre os emergentes, e por isso deve seguir ganhando espaço — avalia. Segundo ele, a redução das taxas de juros no México também amplia a margem para que a moeda brasileira se destaque no carry trade.
O mecanismo do carry trade
A estratégia ocorre quando investidores captam recursos em moedas de baixíssimo retorno, como o iene — que rende apenas 0,5% ao ano — e aplicam em países com juros elevados, caso do Brasil, cuja taxa básica é de 15% ao ano. O diferencial garante retornos expressivos e explica a demanda recente pelo real no mercado internacional.
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