A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de aplicar apenas dois anos de prisão em regime aberto ao tenente-coronel Mauro Cid provocou forte reação entre apoiadores e familiares do ex-presidente Jair Bolsonaro. A insatisfação ficou evidente logo no início do dia, quando o vereador Carlos Bolsonaro utilizou as redes sociais para homenagear o militar com a mensagem: “Parabéns pelo que fez na história brasileira, Mauro Cid!”.
Com a homologação do acordo de delação premiada firmado pelo ex-ajudante de ordens da Presidência, aliados do ex-mandatário passaram a discutir medidas para fragilizar a imagem de Cid e reduzir a credibilidade de seu depoimento. Nos bastidores, o grupo trabalha em uma estratégia descrita como tentativa de “implosão” do militar.
Um dos movimentos em estudo é destacar o peso de Mauro Cid em decisões consideradas cruciais no governo Bolsonaro. De acordo com ex-integrantes da gestão, o tenente-coronel teria sugerido ações que minimizaram a gravidade da pandemia, além de articular posicionamentos críticos em relação à segurança das urnas eletrônicas e incentivar manifestações contra instituições democráticas, inclusive por meio da captação de recursos financeiros.
Apesar dessas articulações, a narrativa de transferir responsabilidades ao auxiliar dificilmente terá impacto na pena de 27 anos de prisão determinada ao ex-presidente. Pessoas próximas a Cid lembram que ele resistiu por meses antes de cooperar com a Justiça e que a colaboração chegou a ser usada como fundamento pelo ministro Luiz Fux para inocentar Bolsonaro em parte das acusações.
Na ação penal, a Procuradoria-Geral da República (PGR) imputou ao militar cinco crimes: participação em organização criminosa armada, tentativa de abolir de forma violenta o Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado ao patrimônio da União e destruição de patrimônio tombado. Somadas, as penas poderiam ultrapassar quatro décadas de prisão. Com a delação, entretanto, o STF reduziu a condenação para dois anos em regime aberto.
Conforme adiantado pelo colunista Bernardo Mello Franco, Cid planeja deixar o Brasil após o término da pena. A intenção é se mudar para os Estados Unidos, onde já residem sua filha e um de seus irmãos.
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil